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Número de imigrantes no Brasil cresce 24% em dez anos

FOLHAPRESS – Em 2010, o censo mostrou que quase 600 mil imigrantes viviam no Brasil –principalmente portugueses e outros europeus. Dez anos depois, esse número mais que dobrou, chegando a 1,3 milhão, segundo um estudo apresentado nesta terça-feira (7) pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra).

A grande diferença de volume, porém, é só uma das transformações ocorridas nesta última década. Os dados também revelam uma diferença radical no perfil desse estrangeiro que veio morar no Brasil: os países de origem, a proporção de mulheres, o salário médio, a distribuição pelo país, tudo isso mudou nesse espaço de dez anos.

Para traçar o panorama da imigração no Brasil entre 2011 e 2020, a pesquisa do Observatório analisou bases de dados do governo, incluindo os refugiados reconhecidos, os solicitantes de refúgio e os demais imigrantes.

Se em 2010 a maioria dos imigrantes que viviam no Brasil eram de Portugal, dez anos depois a Venezuela e o Haiti são os dois primeiros países de origem. Dos dez principais fluxos migratórios para o território brasileiro, só dois são de países do Norte global: França e EUA.

Essa mudança acompanha uma tendência mundial, com as migrações Sul-Sul se sobrepondo às migrações do Sul para o Norte Global. As barreiras implantadas pelos governos ricos para vetar a entrada de imigrantes são uma das explicações para o fenômeno.

Nos primeiros cinco anos da década, a nacionalidade dos recém-chegados já começou a mudar, com a vinda de muitos sul-americanos, haitianos, senegaleses, congoleses e bengalis. Da segunda metade em diante, os haitianos e venezuelanos foram responsáveis pela consolidação da imigração latino-americana e caribenha.

Em 2010, mais de 60% dos imigrantes se concentravam nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Agora, os dois estados juntos reduziram sua participação para 38%, com uma distribuição dos imigrantes por outros estados.

Roraima, na fronteira com a Venezuela, foi o principal deles, com 21,9%. Os estados da região Sul, com 16,8%, também passaram a receber muitos imigrantes, assim como Amazonas, Minas Gerais e Bahia. O estado de Santa Catarina foi o que mais criou empregos para imigrantes.

Perfil mais femino

Acompanhando outra tendência global, o Brasil vivenciou uma “feminização” das migrações, com mais mulheres chegando, especialmente haitianas e venezuelanas. Apesar de os homens ainda serem maioria, o perfil mais familiar desses dois fluxos vêm aumentando a proporção de imigrantes do sexo feminino.

No caso das refugiadas e solicitantes de refúgio, sua participação dobrou de 2013 para 2019, de 22% para 46%.

Essa mudança não significa, porém, que elas estejam atingindo um maior grau de igualdade em relação aos homens. Os dados mostram que as imigrantes recebem 70% do valor do salário dos trabalhadores do sexo masculino, e que sua inserção laboral acontece em empresas com alta exploração da mão de obra.

Mais negros e pardos

A diversificação dos países de origem levou a uma mudança no perfil racial dos imigrantes. Se em 2011, os pretos e pardos representavam 13,9% do total daqueles que estavam no mercado formal de trabalho, no fim da década eles já são maioria (54,4%).

Nos primeiros anos, a chegada de pessoas de países africanos e, especialmente do Haiti, fez com que a proporção de negros subisse. O crescimento de trabalhadores de cor parda ocorreu a partir de 2018, com os venezuelanos.

Casamento mistos

Homens imigrantes se casam mais com mulheres brasileiras do que o contrário. Dos 65 mil casamentos com ao menos um dos cônjuges imigrante na década, 62,2% foi esse tipo de arranjo. Em seguida, vêm os homens brasileiros casados com mulheres imigrantes (28,6%) e, por último, os casamentos entre dois imigrantes (9,2%).

Esse último grupo vem crescendo desde 2017, mas ainda é inferior às uniões mistas.

Escolaridade cai

No começo da década, entre os imigrantes no mercado formal de trabalho, a maioria (52%) tinha curso superior completo. Hoje, eles são 21,2% do total, com a escolaridade do ensino médio sendo a mais comum (44,5%) e a proporção dos sem instrução ou com fundamental incompleto tendo subido de 5,8% para 14,1%.

Essa composição reflete a entrada dos novos imigrantes vindos de países pobres ou em desenvolvimento, diferente dos fluxos anteriores, nos quais predominavam trabalhadores europeus mais escolarizados.

Salários baixos

De 2011 a 2020, o número de imigrantes no mercado formal de trabalho brasileiro triplicou, passando de 62.400 para 181.300.

O rendimento médio deles, porém, vem caindo ao longo dos anos, diferentemente da média geral, que vem se mantendo estável, observa André Simões, responsável por essa parte do estudo. “Uma explicação é a inserção ocupacional dos imigrantes, que vêm ocupando postos de trabalhos no setor agroindustrial, nos setores de abates de aves e suínos”, diz, referindo-se especialmente a haitianos e venezuelanos.

Considerando todas as nacionalidades, o rendimento mensal médio dos imigrantes (de R$ 4.900) é superior à média nacional. Mas esse número não reflete a realidade da maioria do grupo: 65% ganham até 2 salários mínimos.

A média é puxada para cima pelos altos salários de trabalhadores de algumas nacionalidades: enquanto em 2020 o rendimento médio de um norueguês no Brasil era de R$ 33.000 ao mês, o de um venezuelano era de R$ 1.521, por exemplo. Em 2019, refugiados latino-americanos tinham rendimento 53% menor que a média salarial do mercado geral.

Acessos a benefícios sociais

O número de famílias com ao menos um membro imigrante registradas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) subiu de 12 mil em 2012 para 132 mil em 2020. Destas, 44% recebem Bolsa Família, 21% a Tarifa Social de Energia Elétrica e 18% receberam o Auxílio Emergencial da pandemia no ano passado. Venezuelanos, haitianos, bolivianos e paraguaios são as principais nacionalidades entre os cadastrados.

Mais chineses executivos

A composição de um grupo específico de imigrantes, aqueles que se mudam para o Brasil por demanda de uma empresa local, também sofreu mudanças na última década. Geralmente são homens, com cargo de gerência, salários elevados e moradores do Sudeste. Apesar de europeus e norte-americanos ainda terem forte presença entre eles, há uma demanda crescente por trabalhadores chineses, boa parte deles trabalhando nos setores de infraestrutura para energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto e comércio atacadista de tecnologia. Por outro lado, o número de latino-americanos entre esses executivos vem caindo.

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