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Família: não apenas um grupo, mas um fenômeno social – Parte I

Por: Eliana Pereira Ignacio
Considerando-se que a vida social é algo fundamental à existência e sobrevivência dos seres humanos enquanto indivíduos, é na família que se dá início ao processo de socialização, educação e formação para o mundo.

Os grupos familiares caracterizam-se por vínculos biológicos, mas sua constituição ao longo da história em todos os agrupamentos humanos não se limitou apenas ao aspecto da procriação e preservação da espécie, mas tornou-se um fenômeno social.

As famílias são consideradas grupos primários, nos quais as relações entre os indivíduos são pautadas na subjetividade dos sentimentos entre as pessoas, fato que justifica, muitas vezes, o amor existente entre pais e filhos adotivos, logo sem relação consanguínea. Assim, os laços que unem os indivíduos em família não se sustem pela lógica da troca, da conveniência do relacionamento a partir de um cálculo racional como que em um contrato no mundo dos negócios em que cada parte vê vantagem na relação existente, constituindo um grupo formal.

Ao contrário, a família é um grupo informal, no qual as pessoas estão ligadas por afeto e afinidade, e que por conta deste sentimento criam vínculos que garantem a convivência em um mesmo local de residência. Mas o que dizer dos inúmeros problemas familiares que tanto se ouve falar ou mesmo que se pode enfrentar no dia a dia? As respostas para esta pergunta são várias, assim como o grau de complexidade de cada uma pode variar.

Porém, de maneira muito simplista, até certo ponto, é possível afirmar que a gênese dos conflitos familiares está no momento em que as bases da união deste grupo começam a ser minadas pelo despontar das personalidades, das opiniões diferentes, da individualidade de cada membro, o qual não abre mão daquilo que lhe é particular (enquanto indivíduo) em nome da família.

Para ilustrar, basta pensar nos conflitos existentes em famílias com jovens adolescentes os quais, neste momento em que deixam a infância para entrarem na vida adulta, tornam-se muito mais críticos aos valores dos adultos que o cercam, muitas vezes cogitando até mesmo, de forma impulsiva, abandonar o lar. Logo, nada mais natural do que os choques de geração e conflitos entre pais e filhos neste sentido, o que não significa uma desestabilização definitiva da família. Assim, a despeito disso, os vínculos construídos para além do biológico permanecem.

Mesmo que por motivos quaisquer os indivíduos venham a se separar, não mais residindo no mesmo local, obviamente continuam a constituir uma família, principalmente no aspecto legal. Por isso mesmo, embora se tenha dito aqui ser a família um grupo informal, é fato que com a complexalização da sociedade ocorreu uma espécie de formalização dos vínculos familiares.

O Estado passou a regulamentá-los, criando um aparato legal que rege não apena as relações entre cônjuges, mas também entre pais e filhos. Isso se torna evidente principalmente quando se trata de questões ligadas a direitos sobre heranças, patrimônios, tutela de menores, pensões, entre outros casos, bem como na expedição de documentos como certidões de casamento (formalizam o vínculo) e nascimento (formalizam a paternidade).

Embora um fenômeno social presente em todas as culturas, obviamente os grupos familiares e as relações de parentesco não possuem as mesmas regras e convenções, manifestando-se de formas peculiares a depender dos costumes de um determinado povo ou sociedade. Logo, há uma relação direta entre padrões familiares de comportamento (expectativa de papel social de cada indivíduo, pai, mãe, filhos, avós, etc.) e os códigos morais vigentes, os quais também são construídos socialmente ao longo do tempo.

Um exemplo claro está na forma diferente como monogamia e bigamia são vistas mundo a fora. Da mesma forma, o padrão cultural vigente vai determinar as relações de poder existentes entre os membros familiares, variando-se os tipos de autoridades existentes entre patriarcal isto é; quando os pais de família exercem o poder de mando e controle. E matriarcal isto é; quando as mães assumem o mando ou paternal (quando a autoridade é mais equilibrada entre os cônjuges).

Além disso, é importante considerar que ao longo do tempo a estrutura de organização da família pode sofrer alterações dentro de uma mesma cultura, uma vez que as transformações nos padrões familiares são consequência direta das transformações sociais, econômicas e políticas.

“Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá”. Êxodo 20:12

Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um E-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jsnewsusa.com

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