Imigração

Imigração monta falsa universidade para prender alunos estrangeiros irregulares

Em seu site, a University of Farmington publicou um currículo inovador que prepararia os alunos para competir na economia global e horários de aula flexíveis que permitiriam que eles se inscrevessem sem interromper suas carreiras. A escola baseada no Estado de Michigan divulgou o número de idiomas falados por seu presidente (quatro) e o número de aulas ministradas por assistentes de ensino (zero). Fotos do campus mostravam estudantes conversando com livros nas mãos, em quadras cheias de grama ou conversando na moderna e bem iluminada biblioteca.

A taxa de matrícula era relativamente razoável – US$ 8.5 mil por ano para alunos de graduação e US$ 11 mil por ano para estudantes de pós-graduação. Mas não havia aulas na universidade, tampouco instrutores ou professores. Nos autos da corte que foram abertos na quarta-feira, 31, os promotores federais revelaram que a escola estava sendo administrada por agentes encobertos que trabalhavam para o Departament of Homeland Security (DHS).

A falsa universidade havia sido montada em 2015 como parte de uma elaborada operação para atrair cidadãos estrangeiros que inicialmente tinham vindo aos Estados Unidos com vistos de estudante. Seu “campus” consistia de um pequeno escritório em um parque corporativo no subúrbio de Farmington Hills, Michigan, no noroeste de Detroit, sem quadra ou biblioteca à vista. À primeira vista, o site da University of Farmington parecia legítimo.

Mas, recentemente, registros judiciais revelaram que a “equipe” da escola na verdade consistia de agentes secretos do DHS. A universidade falsa “estava sendo usada por cidadãos estrangeiros como um esquema de ‘pagar para jogar’”, alegam os promotores. Depois de gastar milhares de dólares, os estudantes forneceriam às autoridades de imigração evidências de que estavam matriculados em um programa educacional de tempo integral.

Eles poderiam então continuar a viver e trabalhar nos Estados Unidos com um visto de estudante. Mas como a University of Farmington não existia, eles não tinham o incômodo de escrever artigos, fazer testes ou comparecer às aulas. Os estudantes sabiam que o esquema era ilegal “e que a discrição deveria ser usada ao discutir o programa com outros”, escreveram os promotores em sua acusação, que foi apresentada no dia 15 de janeiro na Corte Distrital do Distrito Leste de Michigan.

De acordo com o jornal Detroit News, que reportou pela primeira vez a operação secreta, cerca de 130 estudantes da University of Farmington foram presos por violações de imigração na quarta-feira, 30, como parte de uma grande varredura nacional e agora estão potencialmente enfrentando deportação. Além disso, oito pessoas que supostamente trabalharam como “recrutadores” para a escola e ajudaram coletivamente pelo menos 600 estudantes a permanecer no país sob falsos pretextos agora enfrentam acusações federais de conspiração.

A lista de escolas certificadas pelo DHS, onde estudantes internacionais podem se matricular, inclui a University of Farmington. A escola fingiu ser uma instituição legítima. Antes da noite de quarta-feira, quando as contas do Facebook e do Twitter da escola foram abruptamente apagadas, as postagens nas mídias sociais notificaram os alunos sobre cancelamentos de aulas por causa de uma tempestade de neve, e anunciaram uma feira de admissão.

A University of Farmington tinha um lema latino – “Scientia et Labor” – “Conhecimento e Trabalho” – e um punhado de avaliações positivas online de pessoas, que supostamente seriam ex-alunos, se diziam satisfeitas com a entidade. Mas ninguém matriculado na universidade estava progredindo para obter um diploma, disse a acusação.

A “experiência educacional única” promovida no site da escola aparentemente consistia em não ir à escola. Havia indícios de que nem tudo era óbvio. O site da escola nunca disse quantos alunos estavam matriculados, embora afirmasse que eles provinham de todos os 50 estados e 47 países. Não citava o presidente da universidade ou o ano em que a escola foi fundada.

Como Robert Snell, do Detroit News, observou no Twitter, uma foto mostrando um grupo diversificado de estudantes em profunda concentração era do banco de imagens Shutterstock. A universidade alegou ser credenciada pelas autoridades, mas não apareceu em um diretório on-line de instituições credenciadas no site da organização. Segundo os promotores, os estudantes estavam conscientes de que a escola era uma fraude.

Eles supostamente optaram por se inscrever de qualquer maneira, porque isso permitiria que eles permanecessem no país com vistos de não-imigrante F-1, que permitem que cidadãos estrangeiros residam temporariamente nos Estados Unidos enquanto estudam em instituições acadêmicas credenciadas.

Khaalid Walls, porta-voz do ICE em Detroit, disse à emissora local WXYZ que os estudantes entraram legalmente nos Estados Unidos com vistos F-1 depois de serem aceitos em escolas legítimas e depois transferidos para a University of Farmington. As acusações federais apontam oito pessoas em oito estados que alegadamente eram estudantes na escola e recrutaram mais estudantes para se inscreverem.

Todos foram presos e acusados de conspiração para cometer fraude de visto e abrigar estrangeiros para obter lucro. Eles enfrentam uma sentença máxima de cinco anos de prisão. Os oito recrutadores supostamente ajudaram a criar registros fraudulentos, incluindo transcrições, que os estudantes poderiam dar às autoridades de imigração. As autoridades alegam que, coletivamente, aceitaram mais de US$ 250 mil em propinas pelo seu trabalho, sem perceber que os pagamentos vinham de agentes disfarçados que trabalhavam para a Homeland Security Investigations, uma divisão do ICE.

Esta não é a primeira vez que o ICE cria uma universidade falsa com o objetivo de erradicar a fraude de vistos. A prática conhecida como “pagar para fi car” é uma ameaça à segurança nacional e as autoridades anunciaram em abril de 2016 que processaram 21 pessoas por recrutamento de estudantes internacionais que pagaram para se matricular na Northern New Jersey University, para que pudessem obter vistos de estudante.

Mais de uma dúzia de estudantes que participaram do esquema disseram mais tarde ao New York Times que sentiam que tinham sido enganados pelo governo. Muitos dos estudantes matriculados na University of Farmington aparentemente são cidadãos indianos. Embora a universidade falsa tenha sido criada em 2015, foi apenas em fevereiro de 2017 que os agentes do DHS começaram a se passar por funcionários da universidade, disse a acusação. A operação secreta, apelidada de Paper Chase, continuou até o começo do mês.

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