Celebridades EUA

Melania não deveria ser vista como uma vítima oprimida de um casamento abusivo

JCEditores – No sábado, quando Joe Biden foi anunciado o presidente eleito na eleição presidencial americana de 2020, a mídia social provavelmente ‘explodiu‘.

Muitos tweetaram seus parabéns ao futuro presidente e subsequentemente expressaram seu alívio, pois foi confirmado que a presidência, que muitos consideraram opressora, irresponsável e caótica de Donald Trump não continuaria num segundo mandato.

Ao fazer isso, memes, provocações e outras zombarias foram compartilhados às custas de Trump em toda a Internet e a primeira-dama também foi alvo de várias piadas.

Vídeos representando Melania Trump numa fuga frenética da Casa Branca e do seu casamento com Trump após derrota para Biden fizeram sucesso nas redes sociais.

Mas essas “piadas” são problemáticas de várias maneiras. Em primeiro lugar, incentivam a narrativa de que Melania foi uma vítima no casamento e refem do papel de primeira-dama.

Claro que não sabemos os detalhes profundos do casamento de Melania e Trump – e embora haja relatos recentes que especulem que ela está planejando o divórcio, não há evidências concretas que ela tenha sido de alguma forma uma vítima de um relacionamento.

Para retratar a mulher que já usou uma jaqueta com os dizeres  ‘Eu realmente não me importo‘ estampada nas costas, quando estava a caminho de um centro de detenção infantil – que mantinha crianças imigrantes separadas de seus pais – como é possível vê-la como uma espécie de vítima passiva?

Como primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump se juntou a mulheres como Michelle Obama. Mas suas abordagens para o papel diferiam imensamente – Michelle dedicou a defesa dos direitos humanos, enquanto nas poucas vezes que vimos Melania, ela parecia que simplesmente não se importava, sua abordagem sem vida era esquecível e pouco inspiradora. Por mais desanimada que possa ter sido, ela ainda carregava responsabilidades como a primeira-dama – e ela deveria ser responsabilizada por negligenciá-las.

Os memes sugerem que Melania tem pontos de vista e opiniões opostas a Trump – daí seu aparente desejo de fugir, divorciar-se e quem sabe, matá-lo, como sugerem os diversos memes nas redes sociais. Mas desde que Trump começou sua campanha presidencial em 2015, Melania apoiou suas políticas e comentários discriminatórios, e o apoiou durante seus muitos julgamentos e tribulações como presidente.

Alguns podem dizer que  um certo grau de apoio deve ser esperado de um cônjuge – mas Melania desacreditou publicamente as acusações de agressão sexual dirigidas a Brett Kavanagh, que seu marido havia nomeado como juiz da Suprema Corte, dizendo que as mulheres que acusam homens desses crimes precisam ter ‘fortes evidências ‘.

Ela também tentou minimizar o infame ‘comentário maldoso‘ de Donald Trump como apenas ‘conversas de meninos‘. Embora ela possa ter apoiado o marido, como se espera de um “casal normal“, o claro desrespeito de Melania por outras mulheres e vítimas de violência sexual ficou evidente.

As tentativas de mostra-la como uma esposa oprimida e complacente pela qual deveríamos torcer para “fugir” de seu casamento com Trump, essa visão compromete a sua participação no período repressivo de Trump como presidente.

Apesar de não falar em público com muita frequência, Melania também conseguiu se contradizer em várias ocasiões – assim como o marido. Durante a Convenção Nacional Republicana de 2020, ela pediu o fim das tensões raciais no país, que foram acesas após a morte de George Floyd nas mãos de policiais brancos em maio. Mas voltando à 2011, ela fez parte da multidão que espalhou o boato racista de Trump de que o então presidente Obama nasceu no Quênia e não nos Estados Unidos, tornando assim sua presidência ilegítima.

Usando o racismo como combustível, Melania promoveu as diversas teorias da conspiração, pedindo para ver a certidão de nascimento de Barack Obama, durante uma entrevista na TV, inegavelmente agitando assim ela ajudou a construir as tensões raciais nos EUA que ela,agora em 2020, estaria pedindo para acabar.

E temos que mencionar a campanha anti-bullying risível ‘Be Best‘, que ela timidamente tentou lançar pouco antes do presidente intimidar a ativista climática Greta Thunberg (e muitos outros) de 16 anos no Twitter.

O último problema com os memes é o racismo evidente.

Reduzir a existência de Melania ao seu sotaque esloveno e inglês quebrado é ofensivo, e isso em nada ajuda a combater o estereótipo de que ela só existe como uma espécie de esposa troféu europeia (mas poderia ser latina vinda do trópicos).

Ela deveria ser lembrada por sua falta de capacitação de lidar com a divisão social existente nos Estados, pela sua falta de iniciativas e pelos discursos mal plagiados. Criar e compartilhar memes racialmente tingidos de Melania para comemorar a derrota de Trump é hipócrita, pois contradizem a crítica generalizada ao racismo mal combatido por Trump.

Embora possamos nos alegrar com os vídeos famosos de Melania golpeando publicamente a mão do marido e franzindo a testa quando ele vira as costas, não devemos usá-los como munição para alimentar a narrativa de vítima vivida como a Sra. Trump.
Em vez disso, devemos nos lembrar de Melania Trump como uma primeira-dama fracassada, que compartilha as mesmas crenças preconceituosas de seu marido misógino e transfóbico. Não devemos dar-lhe passe livre ou apoiá-la, mesmo que seja apenas para o ponto alto de uma piada.

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