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Jovens mães centro-americanas apostam tudo em vida nova nos Estados Unidos

AFP – Amanda García tenta conter as lágrimas enquanto espera na rodoviária de uma cidade fronteiriça do Texas por um ônibus para Dallas. Depois de 30 dias na estrada, está a poucas horas de seu objetivo: uma vida melhor nos Estados Unidos.

Como muitos migrantes que partem da América Central, García diz que a vida em sua Guatemala natal transcorre sob constante ameaça da violência.

Sentada com seus filhos, um menino enérgico de cinco anos e um bebê de dez meses, no terminal de Brownsville, ela explica como as oportunidades que os EUA oferecem foram a principal razão para levá-la até lá.

Aos 22 anos, não conseguia encontrar um emprego e o pai das crianças também não os ajudava.

“Eu queria seguir em frente e mostrar a todas aquelas pessoas que me disseram que eu não conseguiria”, diz.

García tem parentes mais ao norte e, embora ainda não saiba o que vai fazer em Dallas, tem certeza de que será melhor do que nada. Após uma travessia ilegal, a Patrulha de Fronteira (CBP) lhe entregou papéis que lhe permitirão ficar por enquanto no país e procurar trabalho.

“Para mim é uma alegria que eles tenham aberto uma porta para eu seguir em frente”, afirma.

Vida difícil

García e seus filhos são uma das dezenas de famílias de migrantes que passam pela rodoviária de Brownsville diariamente, sobretudo, mulheres com filhos pequenos e histórias semelhantes.
A maioria chega pelo México na esperança de encontrar trabalho nos Estados Unidos. Também chegam fugindo da violência endêmica de “criminosos e traficantes de drogas”, como conta uma delas.

Eva María Polanco, de 25 anos, está indo para Houston, onde vivem seus sogros, ou talvez Indiana, onde mora uma irmã.

“Aqui você trabalha em qualquer coisa, enquanto em Honduras não há trabalho. A vida é muito difícil lá”, afirma. Ela está na estrada há um mês com sua filha de dois anos: de ônibus, ou pedindo carona.

“Teve vezes que tivemos que dormir ao relento (…) A verdade é que eu não trouxe muito dinheiro”, conta. Pessoas dividiram comida com elas e, na fronteira, houve quem a ajudou a atravessar o Rio Grande sem pedir dinheiro em troca. Uma vez do outro lado, foram paradas pela Patrulha da Fronteira.

A CBP nunca lhe perguntou os motivos de sua viagem, apenas recolheu seus dados e lhe entregou os documentos que lhe permitirão ficar e trabalhar, pelo menos temporariamente com o compromisso de reportar às autoridades onde se encontra estabelecida.

Ajuda de Biden

Como muitas outras, Polanco explica que a decisão do presidente Joe Biden de aliviar as duras restrições à imigração aplicadas por seu antecessor, Donald Trump, tornou sua decisão mais fácil.

“A verdade é que isso nos ajudou muito”, diz. “Se eu tivesse vindo antes, não teria passado”, explica.

E, embora o governo Biden mande de volta os adultos que cruzam ilegalmente, as mulheres na rodoviária de Brownsville acham que, com crianças muito pequenas sob seus cuidados, elas conseguirão ficar. A consequência foi um aumento de migrantes, o que se tornou um desafio para o novo governo.

“Não há fim à vista, pois grandes grupos continuam a entrar” na área do Vale do Rio Grande, no sudeste do Texas, escreveu recentemente no Twitter o chefe regional da Patrulha de Fronteira.

Fugindo das gangues

Algumas das mulheres que passam por Brownsville vão ao encontro dos maridos, já nos Estados Unidos.

Luvia Tabora, de 25 anos, relata que depois da chegada de Biden à presidência, seu marido disse a ela que era uma boa hora para ir.

Outras deixam a família para trás, como Jilsa Revolorio, que seguirá para o Colorado, onde mora seu primo, na esperança de trabalhar em um restaurante.

Sua filha de dois anos, Camilla, viaja com ela, mas seus outros três filhos ficaram com sua mãe.

Na Guatemala, trabalhava como vendedora ambulante e enfrentava constantes extorsões de gangues. Sempre queriam mais, lembra.

“Se você não pode mais pagar a taxa, tem que fugir, porque sua vida fica em perigo”, relata.

Solidariedade

Todos dizem que a viagem não foi fácil, embora contem com a ajuda de bons samaritanos dos dois lados da fronteira.

Uma vez nos Estados Unidos, voluntários em Brownsville entregam comida, roupas limpas e brinquedos para as crianças para ajudá-las a continuar.

Também fazem testes para covid-19. Os 7% que testaram positivo receberam um quarto de hotel gratuito, pago por doações, para passar a quarentena antes de continuar a viagem.

Daniela Sosa, gerente do Neighbor Settlement House, abrigo para moradores de rua, diz que há muito tempo alimentam migrantes e que o fluxo atual não é tão grande quanto há dois anos, por isso estão preparados.

A poucos quarteirões do terminal, voluntários embalam dezenas de alimentos para as famílias.

“Eles ficarão aqui apenas um, ou dois dias, enquanto fazem os arranjos de voo, ou ônibus”, explica. “É por isso que somos um alívio para eles”, completa.

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