Celebridades Cultura

Crônicas do dia-a-dia – Ziraldo

Edel Holz

Sempre admirei o Ziraldo. Desde quando li “O Menino Maluquinho” pela primeira vez. Minha prima Érika é sua fisioterapeuta desde sempre e eu pedi a ela que me apresentasse a cabeça branca mais jovem do Brasil.

Nosso primeiro contato, foi quando mandei pra ele ler, através da minha prima, meu infantil “Alí… Onde Judas Perdeu as Botas”.

Liguei pra ele perguntando se leu, o que achou e ele disse: “-Não li! Que livros cê leu na vida, menina?”

Eu disse: Paris é uma Festa, do Hamingway, toda coletânea do Nelson, as comédias do Shakespeare… e ele: Pode parar…Cê não falou  O Pequeno Principe, tá bom demais.

Passei a visitar seu estúdio sempre que dava. Ficava no andar de cima de sua casa. Nas paredes, seus personagens, Sua secretária, Regina, era um amor e pôs tarô pra mim. A maioria das pessoas que trabalham pra ele são conhecidos e familiares. Ele se rodeia de gente querida.

Um dia, soube pela minha prima, que ele estava lançando duas revistas: Palavra- uma revista enormeeee e deslumbrante.

Ela era maior que o padrão, com matérias sofisticadas e fotos belissimas. A outra, era uma sátira da CARAS. O nome já era divertido: BUNDAS. E o slogan: “Quem tem Bundas em Caras, não tem CARAS em BUNDAS.” Pois eu queria escrever pra BUNDAS, pela ousadia do título. Liguei pro Zira (seu apelido) e disse:- Posso escrever pra BUNDAS?

E ele: Você é muito jovem. Aqui só tem homem velho.
Pois eu disse: Já escrevi um artigo.
E ele: Qual o tema?
Eu disse: O Pinto!
Mais do que rapidamente ele falou: Me encontra daqui a 10 minutos nesse endereço!

A sede da BUNDAS era na Rua Bulhões de Carvalho, em Copa. Lá, estavam os maiores intelectuais e caricaturistas do país: Miguel Paiva(Radical Chic), Laerte, Jaguar, Millor Fernandes…meu coração foi na boca de tanta emoção. Ziraldo leu o texto na minha frente e disse: Não posso publicar isso… Você é uma menina da família mineira. O que seu pai vai dizer?
Eu respondi: Meu pai sabe que sou artista e ele curte meus textos.

Ziraldo não publicou meu texto, mas eu gostei tanto da ideia, que o transformei em poesia e criei uma personagem- A Criança, para interpretá-lo sem chocar ninguém, no meu espetáculo “A Flor Cômica“. Num dia de inverno carioca, liguei pro Zira e disse que fui chamada para ir no Jô Onze e Meia.

Zira me convidou pra ser capa da Bundas na mesma hora. Ele perguntou se eu tinha grana pro taxi e lá fui eu fotografar pra minha primeira e única capa de revista. Eles colocaram um cabelo fake na foto, olhos azuis, tudo fake, mas dentro, uma foto linda minha que eu havia tirado para uma matéria da revista Palavra que nunca aconteceu.

A revista era muito cara e parou de ser impressa. A entrevista foi um sucesso. Jô foi um amor comigo. Até pão de queijo levei. Claro que falei que fui Capa da Bundas daquela semana. Pois a minha BUNDAS vendeu mais que num sei o quê… e todos ficamos felizes. Um mês depois, ainda fotografei para uma matéria dentro da revista, dirigida pelo Miguel Paiva.

Em 2008, Fernando e eu fomos visitá-lo no Rio e ele autografou a Bundas pra mim. Em 2015, montei “O Menino Maluquinho” aqui e ele me autorizou a livre adaptação. Mas quando conversamos , ele disse:– Tô velho, bem… muito velho… Pela primeira vez, aquela cabeça branca tão jovem e inteligente demais, se mostrou cansado pra mim… O  Menino maluqinho”. 

Foi um dos espetáculos mais lindos que montei, porque aquele menino não era nada maluquinho e sim muito feliz- como seu criador. Te amo Ziraldo… e agradeço por todos os grandes ensinamentos.

Seu traço é incrível e eu sou um pouco de cada personagem seu: Supermãe, Pererê, Flicts e esse menino mineiro como eu, que só quer ser feliz!!!

Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.

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