Edel Holz
Seu Juca era um senhor de pele bem escura, usava seu chapéu de palha, debaixo do sol escaldante, enquanto sentava numa pedra pra descansar e fumar seu paieiro.
Ele namorava sua Sandrina `a luz do luar e contava histórias pra nós, ainda crianças, que disparavam nosso coração. Foi com ele que conheci o Saci Pererê, a Yara, o lobisomem, a Mula Sem Cabeça… Ele gostava duma branquinha a ponto de virar os olhos e ficar tontinho depois de uns tantos tragos….
Quando soube que Seu Juca estava doente, minha alma infantil chorou. E lá fui eu, voltar para aquelas pairagens, depois de tantos anos ausente…
A casa, que pra mim era gigante, quando eu era criança, diminuiu de tamanho diante dos meus olhos adultos. A Fazenda não era mais nossa. Meu pai havia a vendido para uma família gaúcha que mudara há pouco pra Minas Gerais. Quando cheguei em seu quarto, Sandrinha estava sentada, na cabeceira de sua cama para atendê-lo no que precisasse.
Ela era muito caprichosa e a casa exalava limpeza por todos os cantos. Ele pedia água toda hora pra poder ficar sozinho um cadinho comigo.
Peguei em sua mão e lhe perguntei:- E aí? Como o Sr. está, Seu Juca? E ele disse:- Uai…o médico falou que eu num posso beber, nem comer, nem andar e nem trepar. Nunca mais! Agora me diz… Como que uma pessoa pode viver sem beber um traguinho, comer uns porquinho , Andar livremente por esses pastos e dar uma boa trepada? Eu acho que eu morri e num tô sabeno…
Pois eu não me aguentei e desatei a rir. Sandrinha entrou com o copo d’água e uma cara de poucos amigos. Eu não conseguia parar de rir. E ele completou:-Só rino, minha filha… Só rino…Porque desgraça pouca… é bobagem!
Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.
