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Usando as redes sociais, traficantes dão informações falsas aos interessados em migrar ilegalmente para os USA

Da Redação – Traficantes de pessoas muitas vezes deturpam as políticas e as condições de imigração ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México em postagens no Facebook e WhatsApp, visando migrantes que se dirigem aos EUA, de acordo com um relatório publicado nesta quarta-feira (27) por um grupo de transparência tecnológica.

Desde que assumiu o cargo, o presidente norte americano, Joe Biden, enfrentou um número sem precedentes de imigrantes que chegam à fronteira sul dos EUA em meio ao agravamento das condições sociais em todo o Hemisfério Ocidental. Mas enquanto os altos funcionários do governo alertam repetidamente as pessoas para não viajarem para o norte, eles também enfrentam uma indústria multibilionária de contrabando que vende desinformação aos imigrantes.

Em seu novo relatório, o Projeto de Transparência Tecnológica descobriu que os imigrantes confiavam principalmente no boca a boca e em plataformas online para obter informações sobre rotas para os Estados Unidos, o que muitas vezes era enganoso.

“A desinformação levou as pessoas da região a pensar que é muito mais fácil entrar nos Estados Unidos do que realmente é”, disse Katie Paul, diretora do Projeto de Transparência Tecnológica. Os migrantes estão cientes dos riscos e enganos nas plataformas, observou Paul, mas seu volume torna mais difícil decifrar o que é verdade.

Postagens no Facebook e WhatsApp, que estão incluídas no relatório, afirmam que as autoridades de fronteira permitem que mulheres grávidas entrem nos EUA, mostram condições favoráveis ​​para cruzar a fronteira ao deturpar o estado dos rios que terão que atravessar.

“Algumas das desinformações postadas online sobre as condições ambientais parecem influenciar a tomada de decisão dos entrevistados sobre suas próprias tentativas de migração”, afirma o relatório, que inclui entrevistas com migrantes.

Imigrantes entrevistados em uma pesquisa que forneceram algumas das mensagens disseram estar cientes da disseminação de desinformação e dos riscos que a acompanham, de acordo com depoimentos incluídos no relatório.

“O que os contrabandistas fazem é se infiltrar nessas comunidades online. Eles fornecem informações – muitas vezes fabricadas – de que há uma oportunidade de entrar nos Estados Unidos”, disse John Cohen, que anteriormente era chefe temporário da divisão de inteligência do Departamento de Segurança Nacional.

“Eles procuraram organizar grandes grupos de migrantes que viajam para a fronteira sul e aparecem em massa”, acrescentou Cohen, referindo-se aos contrabandistas.

No mês passado, o governo Biden também lançou uma operação “sem precedentes” para interromper as redes de contrabando de seres humanos. A operação incluiu o envio de centenas de tropas em toda a América Latina e um investimento multimilionário. Entre 1º de abril e 22 de julho, as autoridades detiveram 3.533 pessoas associadas a redes de contrabando de seres humanos e realizaram 262 batidas, incluindo esconderijos, carretas, vagões e compartimentos ferroviários, segundo o Departamento de Segurança Nacional.

O governo Biden continua a depender de uma regra de saúde pública da era Trump, conhecida como Título 42, que permite que as autoridades rejeitem migrantes na fronteira entre os países. A administração tentou acabar com a autoridade, mas foi impedida por um tribunal de primeira instância, causando confusão entre os migrantes.

A circulação contínua de desinformação representa um grande desafio para o governo Biden, que tenta conter o fluxo de migração irregular. O contrabando de seres humanos também pode representar sérios perigos. No mês passado, 53 imigrantes morreram depois de serem transportados em um semi-reboque em um calor sufocante no que as autoridades chamaram de “o pior incidente de contrabando humano nos Estados Unidos”.

O secretário de Segurança Nacional, Alejandro Mayorkas, viajará esta semana para Honduras, onde se espera que o tráfico de pessoas seja um tema de discussão entre o secretário e altos funcionários.

O que os migrantes contaram
O relatório de quarta-feira é o primeiro de uma série do Tech Transparency Project sobre a influência das mídias sociais sobre os migrantes. Os entrevistadores do grupo se encontraram com os migrantes na Guatemala, onde começaram sua jornada para o norte e ao longo da fronteira.

Os entrevistadores pediram aos migrantes que nomeassem as contas de mídia social, páginas ou grupos que eles seguiam, e os analistas posteriormente revisaram essas fontes, disse o relatório.

Dos 200 migrantes entrevistados, muitos disseram ter recebido informações sobre migração e viagens para a fronteira sul dos Estados Unidos por meio do boca a boca e de plataformas como Facebook e WhatsApp.

As postagens às vezes se assemelham a anúncios de viagens, listando uma série de serviços e garantias ou prometendo viagens fáceis. A maioria das páginas usa descritores como “coiote”, termo comumente usado para contrabandistas de pessoas, para indicar o serviço oferecido.

Às vezes, as páginas também são classificadas como “empresa de viagens” ou “produto/serviço”. De acordo com o relatório, os contrabandistas também anunciam em grupos locais de compra e venda, onde os anúncios aparecem ao lado de postagens sobre motocicletas e móveis.

A política do Facebook proíbe conteúdo que “ofereça ou facilite o contrabando de pessoas”.

Um porta-voz da Meta disse que a plataforma remove a desinformação quando sinalizada por especialistas e destacou os esforços para verificar as informações. O porta-voz também observou que o WhatsApp, que é um serviço de mensagens criptografadas, depende dos usuários para relatar informações erradas.

Migrantes que chegaram à fronteira Arizona-México descreveram em entrevistas à CNN em espanhol  as condições traiçoeiras de sua jornada até a fronteira sul dos Estados Unidos. Um migrante peruano que viajou com sua família, incluindo sua filha de dois anos, disse à CNN que se sentiu enganado pelos contrabandistas, acrescentando que a viagem foi mais difícil do que o previsto. Ele e sua família pagaram US$ 800 apenas para cruzar o rio até os Estados Unidos.

Um imigrante colombiano também compartilhou os desafios de chegar aos Estados Unidos. Ele pagou a um contrabandista US$ 16 mil  pela viagem.

Guadalupe Correa-Cabrera, professora da Universidade George Mason que estuda o tráfico de pessoas, disse que as taxas de contrabando podem variar de US$ 3 mil a US$ 20 mil, dependendo das circunstâncias. Mas, em geral, os migrantes terão que pagar uma taxa para cruzar a fronteira entre o México e os Estados Unidos.

“A maioria deles precisa de um contrabandista mais cedo ou mais tarde”, disse Correa-Cabrera. “A maioria paga o contrabandista na fronteira. Alguns pagam diferentes redes de contrabando ao longo da rota.”

Um desafio adicional para decifrar a desinformação espalhada em plataformas online sobre migração para os Estados Unidos é determinar quem a está espalhando, disse Correa-Cabrera, acrescentando que os migrantes podem compartilhar a desinformação que ouviram com outros migrantes.

O Departamento de Estado postou anúncios e mensagens nas redes sociais para dissipar desinformação. “Nós amplificamos essas mensagens através da televisão, rádio e notícias da mídia impressa geradas por meio de entrevistas com porta-vozes do governo dos Estados Unidos em Washington e em nossas embaixadas no exterior”, disse um porta-voz do Departamento de Defesa.

“Também divulgamos continuamente essas mensagens através das mídias sociais no México, América Central e outros países de alta emigração no Hemisfério Ocidental, incluindo, em muitos países, o uso de mídia social paga”, acrescentou o porta-voz.

O Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA também lançou uma campanha de publicidade digital em maio para desencorajar os imigrantes de viajar para o norte. A campanha publicitária inicial de dois meses teve como objetivo alcançar os imigrantes nas mídias sociais e outras plataformas digitais.

Com informações CÑN – Espanhol

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