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Senador americano que criticou Bolsonaro está ‘mal informado’, diz embaixador brasileiro

FOLHAPRESS – O embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster, enviou uma carta a Bob Menendez, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, na qual o diplomata afirma que o congressista democrata está mal informado sobre a situação da democracia no Brasil.

Na terça (28), Menendez e três parlamentares enviaram uma carta ao secretário de Estado, Antony Blinken, responsável pela diplomacia americana, alertando sobre a deterioração da democracia no Brasil e pedindo que Biden deixasse claro que “qualquer ruptura democrática terá sérias consequências”.

“Lamento observar que Vossa Excelência parece estar mal informado sobre o estado das instituições democráticas brasileiras”, rebateu o embaixador brasileiro, em resposta enviada na quarta (29).

“O dinamismo e a vitalidade das instituições democráticas brasileiras contrastam vivamente com os regimes autoritários do hemisfério, fonte de preocupação para nossos dois governos”, prosseguiu Forster.

Para embasar o argumento, o diplomata também citou a recente entrevista do presidente Jair Bolsonaro à revista Veja, na qual ele disse que “a chance de golpe é zero”.

No texto da carta enviada a Blinken, os senadores americanos destacaram que Bolsonaro tem feito declarações perigosas sobre as eleições de 2022, dizendo que não vai aceitar o resultado se perder a disputa e que, caso não haja mudança no sistema eleitoral eletrônico, o pleito pode ter fraudes. Para os americanos, esse tipo de linguagem é perigosa em qualquer democracia.

Os democratas também apontaram que o presidente brasileiro tem feito ataques pessoais contra integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) e disse que estaria disposto a usar manobras fora da Constituição para impedir os ministros de exercerem suas atribuições legais.

À frente da Comissão de Relações Exteriores, Menendez tem grande influência sobre a política externa americana. Além dele, assinaram a carta que veio à tona na última terça-feira os democratas Dick Durbin, do Illinois, Ben Cardin, de Maryland, e Sherrod Brown, de Ohio.

Em junho de 2020, Forster enviou uma resposta similar à deputados democratas da Comissão de Orçamento da Câmara, depois que o presidente daquele colegiado, Richard Neal, se opôs à ampliação das relações comerciais entre Brasil e EUA por avaliar que o governo Bolsonaro demonstrou desrespeito aos direitos humanos, trabalhistas e ambientais.

“Escrevo em relação à carta que você [Neal] e outros 23 democratas enviaram […] na qual expressa ‘fortes objeções à busca de um acordo comercial ou parceria econômica ampliada com o Brasil do presidente Jair Bolsonaro’, a quem descrevem como ‘um líder que desconsidera o estado de direito e tem desmantelado o árduo progresso nos direitos civis, humanos, ambientais e trabalhistas.’ Esta é uma afirmação errônea, que parece se basear em deturpações e desinformação”, dizia a mensagem do embaixador, enviada aquela ocasião.

Veja abaixo a íntegra da carta atual enviada pelo embaixador Forster:

Caro presidente Menendez,

Tive a oportunidade de ler sua carta sobre o Brasil dirigida ao secretário de Estado, co-assinada com outros três senadores e publicada ontem, 28 de setembro, na página da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Em sua carta, Vossa Excelência salientou, corretamente, que o Brasil é uma das maiores democracias e economias do mundo e um tradicional e forte aliado dos EUA no Hemisfério Ocidental. No entanto, lamento observar que Vossa Excelência parece estar mal informado sobre o estado das instituições democráticas brasileiras.

Depois de quase três décadas como deputado, o presidente Jair Bolsonaro foi eleito em outubro de 2018, com 55% dos votos válidos (57,7 milhões de votos). Sua eleição sinalizou o claro desejo do povo brasileiro e de nossas instituições de lutar contra a corrupção e defender os princípios do Estado de Direito, da prestação de contas e da transparência inscritos na Constituição brasileira.

O dinamismo e a vitalidade das instituições democráticas brasileiras contrastam vivamente com os regimes autoritários do hemisfério, que são fonte de preocupação para nossos dois governos.

Em entrevista concedida, em 24 de setembro, a um semanário brasileiro, o presidente Bolsonaro mais uma vez rejeitou narrativas conspiratórias ao afirmar que no Brasil “a chance de um golpe é zero”.

Eu não poderia concordar mais com a afirmação de Vossa Excelência segundo a qual “os Estados Unidos se beneficiarão, agora mais do que nunca, de uma sólida parceria com o Brasil”. De fato, estamos trabalhando arduamente com nossos amigos americanos em questões cruciais, como a mudança do clima, a obtenção de desfecho exitoso para a COP 26, o combate à pandemia (mais de 90% da população adulta brasileira já recebeu a primeira dose e 55% está totalmente imunizada) e a promoção de princípios democráticos em nossa região e além dela (o Brasil já acolheu mais de meio milhão de venezuelanos, dos quais 265 mil permaneceram no país).

O Brasil e os Estados Unidos continuam avançando em áreas-chave como defesa, espaço (o Brasil foi o primeiro país latino-americano a aderir ao programa Ártemis) e energia limpa e renovável, em que o Brasil é líder mundial, com quase metade de toda sua energia e 85% de sua eletricidade oriundas de fontes renováveis. O Brasil e os Estados Unidos são potências agrícolas e continuam a promover uma agricultura sustentável e de base científica, que desempenha papel fundamental na segurança alimentar mundial.

Permaneço à sua disposição para continuar nosso diálogo sobre formas de aprofundar as relações entre o Brasil e os EUA, com vistas ao benefício mútuo de nossos povos.

Atenciosamente,

Nestor Forster Jr.

Embaixador

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