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Saiba por que a Califórnia tem tantos incêndios florestais

Quatro fatores explicam a recorrência dos incêndios na Califórnia e a sua virulência atual. O primeiro deles é o clima e suas mudanças.

Assim como a maior parte do Oeste americano, grande parte da umidade californiana surge no outono e no inverno. Durante o verão, com as temperaturas mais quentes e a ausência de precipitações, a vegetação lentamente seca, tornando-se combustível para incêndios. ” O fogo, de algumas maneiras, é algo bastante simples”, diz Park Williams, bioclimatologista da Universidade de Columbia. ” Se as coisas estiverem secas o bastante e houver uma faísca, vão queimar”.

No entanto, embora a Califórnia tenha sempre sido propícia a incêndios, a conexão com o aquecimento global é inexorável.

” Por trás de tudo isso, você tem temperaturas que são cerca de 1 ou 1,5 graus Celsius acima do que seriam se não existisse o aquecimento global”, afirma William.

Essas mudanças ressecam ainda mais a vegetação, aumentando a probabilidade de incêndios. Os índices de umidade do ar que geraram os incêndios recentes eram inferiores a 10%, com a vegetação extremamente seca.

O registro de incêndios do estado remonta a 1932: dos 10 maiores incêndios desde então, nove ocorreram desde 2000, cinco desde 2010 e dois apenas este ano, incluindo o incêndio do complexo de Mendocino, o maior da história do estado.

“Em praticamente todos os sentidos, a Califórnia apresenta uma receita perfeita para incêndios”, disse Williams.
“A natureza cria as condições perfeitas para o fogo, desde que as pessoas estejam lá para iniciá-lo. As mudanças climáticas, de diferentes maneiras, indicam perspectivas sombrias, com mais incêndios no futuro. As pessoas
Ainda assim, mesmo se as condições forem perfeitas, o fogo ainda precisa de algo para acendê-lo.  Às vezes este gatilho é a natureza, como um relâmpago, mas, na maioria das vezes, são pessoas”.

“Muitos desses grandes incêndios que encontramos no Sul da Califórnia, que impacta áreas onde pessoas vivem, são causados pelo homem”, disse Nina S. Oakley, professora assistente de pesquisa de ciência atmosférica no Instituto de Pesquisa do Deserto.

Incêndios mortais nos arredores do condado de Sonoma, no norte do estado, no ano passado, começaram por linhas de energia derrubadas. O chamado Fogo de Carr, que neste ano atingiu os condados de Shasta e Trinity e foi o sexto maior já registrado no estado, começou quando um caminhão estourou seu pneu e seu aro raspou o pavimento, o que gerou faíscas.

“A Califórnia tem muitas pessoas e uma longa estação seca”, disse Williams. “As pessoas estão sempre criando possíveis faíscas, e à medida que o clima resseca, a chance de que uma pessoa crie uma faísca na hora errada só aumenta. Isso sem considerar incêndios criminosos”.

Há outra maneira de as pessoas terem contribuído para incêndios florestais: ao escolherem onde morar. Cada vez mais, as pessoas se mudam para áreas próximas a florestas, conhecidas como interface urbano-floresta, que apresentam condições propícias a arder.

“Em Nevada, temos muitos, muitos incêndios vastos, mas normalmente eles queimam em espaços abertos”, disse Nina Oakley. “Eles não estão queimando bairros”.

A supressão de incêndios
Além disso, há um fator inesperado: a história da combate aos incêndios florestais dos Estados Unidos na verdade piorou os incêndios atuais.

“No século passado, lutamos contra o fogo e nos saímos muito bem em todo o Oeste dos Estados Unidos”, disse Williams. “Isso significa que um monte de coisas que iriam queimar deixaram de queimar. E assim, nos últimos cem anos, tivemos um acúmulo de plantas em muitas áreas.”

Segundo o especialista, por causa disso, em muitas regiões da Califórnia, quando os incêndios começam, encontram muito mais combustível, incluindo vegetação que deixou de queimar nos últimos cem anos.

Nos últimos anos, o Serviço Florestal dos Estados Unidos tem tentado corrigir a prática, por meio do uso de queimadas prescritas ou “controladas”.

Os ventos de Santa Ana
A cada outono, fortes rajadas conhecidas como ventos de Santa Ana trazem ar seco da região da Grande Bacia do oeste ao sul da Califórnia.

Professor assistente no departamento de Gêociências da Universidade do Missouri, Fengpeng Sun é coautor de um estudo de 2015 que sugere que a Califórnia tem duas estações de incêndio distintas. Uma delas vai de junho a setembro e é impulsionada por uma combinação de clima mais quente e seco. Esta é a estação que a maioria das pessoas costuma lembrar. Esses incêndios florestais tendem a acontecer mais no interior, em florestas de maior altitude.

Sun e seus coautores, contudo, também identificaram uma segunda temporada de incêndios, que vai de outubro a abril e é impulsionada pelos ventos de Santa Ana.

Esses incêndios tendem a se espalhar três vezes mais rápido e a queimar mais perto de áreas urbanas. Eles foram responsáveis por 80% das perdas econômicas ao longo de duas décadas a partir de 1990.

Os ventos de Santa Ana não apenas secam a vegetação; eles também movem brasas ao redor, espalhando incêndios.

Se as chuvas de outono, que geralmente começam em outubro, não chegarem a tempo, como aconteceu neste ano, os ventos podem tornar condições já secas ainda mais secas. Na média de outubro, o norte da Califórnia costuma ter mais de cinco centímetros de chuva, segundo Derek Arndt, chefe da divisão de monitoramento dos Centros Nacionais de Informações Ambientais, parte da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica. Este ano, em alguns lugares, a precipitação caiu para menos da metade.

” Nenhum destes lugares tem um índice historicamente seco para outubro”, disse Arndt. “Mas estão todos no lado seco da história”.

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