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Protestos elevam tensão entre Cuba e Estados Unidos

ESTADO – Um dia depois de Cuba ser sacudida por protestos históricos, permanecia o clima de tensão na ilha, enquanto Havana e Washington trocavam farpas. O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, acusou o governo dos Estados Unidos de impor “uma política de asfixia econômica para provocar revoltas sociais no país”, e o presidente norte-americano, Joe Biden, reagiu: “Fazemos um apelo ao governo de Cuba para que se abstenha da violência. Ouça seu povo”.
A internet móvel, que chegou a Cuba no final de 2018 e permitiu a exibição de cerca de 40 protestos contra as autoridades locais no domingo, continuava cortada na manhã de ontem. Milhares de cubanos, fartos da crise econômica, que agravou a escassez de alimentos e medicamentos e obrigou o poder central a cortar a eletricidade por várias horas diariamente, saíram às ruas em dezenas de cidades do país no fim de semana.

Amplamente divulgados nas redes sociais, os protestos antigoverno começaram pela manhã, um fato incomum neste país governado pelo Partido Comunista, onde as únicas concentrações autorizadas costumam ser as do próprio partido único.

“Abaixo a ditadura!”, “Que saiam!” e “Pátria e vida!” – título de uma canção polêmica –, gritavam milhares de manifestantes nas ruas de San Antonio de los Baños, uma pequena cidade de 50 mil habitantes a cerca de 30 quilômetros da capital Havana.

Liberdade!”, entoaram outras centenas em várias concentrações em Havana, onde houve confrontos entre os manifestantes e a polícia, que usou gás lacrimogêneo.
Ontem, em transmissão ao vivo pela televisão e pelo rádio, o líder comunista, rodeado por vários de seus ministros, garantiu que seu governo está tentando “enfrentar e superar” as dificuldades diante do que afirma ser resultado das sanções dos Estados Unidos, reforçadas desde o mandato do republicano Donald Trump.
“O que querem com essas situações? Provocar revoltas sociais, provocar mal-entendidos entre os cubanos, mas também a famosa mudança de regime”, afirmou o presidente. Os promotores dos protestos “tiveram a resposta que mereciam e continuarão a ter, como na Venezuela”, um grande aliado de Cuba, acrescentou.

Já Biden, por meio de nota pediu ao “regime cubano que, em vez de se enriquecer, ouça seu povo e atenda suas necessidades”. O dirigente norte-americano emendou: “Estamos com o povo cubano e seu claro apelo por liberdade e ao resgate das trágicas garras da pandemia e das décadas de repressão e sofrimento econômico a que foi submetido pelo regime autoritário de Cuba”, declarou o presidente norte-americano.

“Os Estados Unidos pedem ao regime cubano que, em vez de se enriquecer, ouça seu povo e atenda suas necessidades neste momento vital”, acrescentou Biden.

Já Díaz-Canel, embora tenha reconhecido a insatisfação de alguns cubanos, lançou aos chamados revolucionários “a ordem de combate”, para que “tomem as ruas onde quer que ocorram essas provocações”.

Mais focado até então em assuntos internos, como o combate à COVI-19 e a aprovação de leis de infraestrutura, e enquanto se retira do Afeganistão após 20 anos de guerra, o governo Biden havia praticamente ignorado a questão cubana até hoje.
Mas a ilha tem um peso cada vez maior na política americana. A forte presença de cubanos e cubano-americanos na Flórida (que registrou ontem atos de apoio aos manifestantes), um dos estados-chave para ganhar a presidência, é bastante importante para as eleições.

Tensão

Após uma breve reconciliação entre 2014 e 2016, as relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos estão em seu nível mais baixo desde que Donald Trump reforçou o embargo em vigor desde 1962.

Essas sanções e a ausência de turistas, devido à pandemia, mergulharam Cuba em uma profunda crise econômica e geraram forte insatisfação social.

Enquanto a ONU e a União Europeia reforçaram o apelo para que Havana respeite as manifestações, Moscou, um dos principais defensores das autoridades cubanas desde os tempos soviéticos, alertou ontem contra qualquer “interferência externa” na crise.

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