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Papa fala de ‘colonização ideológica’ ao pedir desculpas a indígenas no Canadá

O papa Francisco falou de “colonização ideológica” da igreja católica e renovou seu pedido de desculpas aos povos indígenas por décadas de abusos, durante discurso em Quebéc, no Canadá.

O pontífice está no país para um “tour do perdão” aos indígenas.

O líder do 1,3 bilhão de católicos do mundo visitou a cidade de Quebec nesta quarta-feira, terceiro dos seis dias de viagem do pontífice ao Canadá. Ele classificou o sistema escolar como “deplorável” e voltou a expressar “vergonha profunda e dor”: “Renovo meu pedido de perdão pelo mal feito por tantos cristãos aos povos indígenas.”

Francisco criticou “a mentalidade colonialista” do passado, acrescentando que, “ainda hoje, existem numerosas formas de colonização ideológica que se chocam com a realidade da vida, sufocam o apego natural dos povos aos seus valores e tentam desarraigar suas tradições, suas história e seus laços religiosos”.
Em seu discurso, o pontífice defendeu o multiculturalismo e se comprometeu a promover os direitos dos povos indígenas e a “avançar em um caminho fraterno e paciente, trabalhando pela cura e reconciliação”.

Os pedidos reiterados de desculpa feitos por Francisco em sua visita foram bem recebidos no Canadá, embora muitos indígenas tenham ressaltado que ainda há um longo caminho a percorrer.

A primeira governadora-geral indígena do Canadá, Mary Simon, lembrou o trabalho que resta pela frente, ante a presença do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. “Independentemente do local de onde esteja nos ouvindo, está em terra indígena.”

Mary elogiou os sobreviventes dos internatos católicos que foram ouvir o papa “com os corações e mentes abertos, alguns dispostos a perdoar e outros ainda vivendo com dor, mas todos dispostos a ouvir”. Segundo ela, a visita do pontífice foi “um passo importante para um diálogo maior e ações que levem a uma verdadeira reconciliação”.

Trudeau concentrou sua atenção na importância das vítimas e suas famílias: “Os sobreviventes e seus descendentes devem estar no centro de tudo o que fizermos juntos no futuro.”

Crítica ao cancelamento
O papa também atacou a cultura do cancelamento, chamando-a de “moda que se mostra intolerante à diferença e que se concentra no presente, nas necessidades e direitos dos indivíduos, enquanto descuida com frequência de seus deveres em relação aos mais frágeis e vulneráveis”.

O pontífice reiterou o que pensa sobre a guerra na Ucrânia e alertou para os perigos “da corrida armamentista, das estratégias de dissuasão e das terríveis e prolongadas guerras frias”.

Ao longo da rodovia que liga o aeroporto à Cidadela de Quebec, centenas de pessoas se concentraram atrás das barreiras para ver o Papa passar de carro. Algumas exibiam cartazes de boas-vindas e agitavam bandeiras do Vaticano.

Nesta quinta-feira (28), Francisco visitará o Santuário Nacional de Saint Anne de Beaupre, outro importante local de peregrinação na América do Norte, e presidirá uma missa. Mais tarde, irá à Catedral de Notre-Dame, na cidade de Quebec, para uma homilia.
Na sexta-feira (29), o Papa viajará para o arquipélago ártico de Nunavut, onde visitará a cidade de Iqaluit, última etapa de sua visita de seis dias.

Francisco tem sofrido de dores no joelho e desloca-se frequentemente em cadeira de rodas.

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